domingo, 31 de janeiro de 2010

lobo na estepe!


Tempos difíceis...
cavalos irados, pés descalços e lobos na estepe!
A lua grande , enorme e fria, sete lâminas e um olho cego...
Do céu, chuva de anjos e santos, fuga alucinada e o céu vazio, abandonado e vermelho.
Um mundo todo de leis e ninguem entendeu como isso pôde acontecer...galope louco, rédeas mordidas e o mundo assim, tormento!
O lobo olhou pro alto, não reconheceu a lua e nem a femêa ao seu lado, apenas o mêdo cheirando forte e agonia...
Um tempo longe e ninguem esquece do dia em que anjos choveram feito lava...
E lobos na estepe fria!
Quase o fim dos tempos...quase!

Luiz wood

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

...brincar de brincar!


apenas uma distância onde meus braços alcancem um abraço!
onde não tenhamos distâncias nem lonjuras...apenas abraços. Ah...tente me alcançar, me encontrar num esconde-esconde (...NOVE...DEZ! lá vou eu! quem se escondeu, se escondeu, quem não se escondeu, não se esconde mais...). Me encontre...
Eu nem me escondi tão bem assim, me encontre!
Passa-anel...se esta com você, ganho um beijo lindo...um beijo de estrelas!
Se está comigo...ganha você!
Pião colorido...fieira suja...bolinhas de vidro!
E você brincando comigo...Na lua!

Luiz Wood

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Espelho!


Todas as noites, eu me encontro com um homem, que me olha profundamente nos olhos!
É um olhar quase faca de tanto que atinge a alma, é um olhar de brilhos embora tristes, a tristeza de quem ainda tem tanto a dizer, mas não tem platéia...
Quando nos olhamos assim parece que as confidências brotam das nossas bocas num fluxo intenso e inequivoco, e contamos todos os nossos segredos!
E quando desses olhares, brotam gotas, com cuidado as uso pra aguar as plantas de um jardim tão nosso!
Todas as noites, eu e esse homem, fumamos o mesmo cigarro...e entre pigarros cumplices ficamos em silêncio e olhamos fixamente pra toalha da mesa, vez por outra, bebemos do nosso copo! vinho, um velho vinho tinto de sangue e sanidade, boa safra!
As uvas foram roubadas de olhos vermelhos em campos verdes e com elas fizemos o nosso vinho! escorre pelo queixo, deixamos assim mesmo...usar as costas da mão para limpar o vinho do queixo, seria varrer a saudade com um tapa...ah! dói!
Todas as noites, sentamos à uma distancia segura entre nós!
a distância de um braço, não poderia ser menos, mas se mais...fugiria-mos pra bem longe. Todas as noites ele me conta as mesmas histórias lidas em velhos jornais!
A luz amarela da lampada fraca aumenta a nostalgia...
Todas as noites ele envelhece mais.
Enfim me levanto e me vou embora.
Amanhã será outra noite e eu, novamente, abrirei meu coração e entornaremos mais vinho...eu e o homem só!

Luiz wood

....o anjo caiu! Deus está só!


O anjo caiu!
minha boca secou!
meu olho inundou!
e você nem estava aqui pra ver!
a tempestade fez-se violenta e nunca mais, jamais...jamais.
passáros de fogo vomitando fogo e o céu escuro, tão escuro, bandeira de pirata, negro, furioso feito mar! ah! céu negro...tão negro!
o blues rolando, feito ladeira e o soul, apenas alma negra...nova paisagem, impossivel paisagem!
o anjo caiu!
e nunca mais fomos os mesmos...nunca mais crianças...nunca mais!
o céu despencou e o anjo caiu!
Deus está só...
estamos sós...
nunca mais...jamais, jamais...


Luiz wood

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

viva o lírico!


Em memória àqueles que se foram, em inúteis regimentos, em repiques fáceis, numa tropa dizimada...
Em memória ao amor partido, cortado ao meio, abandonado faminto em baixo de um viaduto qualquer...
Em memória à flor teimosa, paralélepidicamente teimosa, folhas pálidas insistentes brotando em meio ao pó do jamais...
Em memória a chuva insistente, açoitadora de vidraças, chamando os surdos que tem mêdo de estarem molhados...
Em memória a nós, loucos e apaixonados, que não desistimos jamais, insistimos em versar poemas e amar...
Em memória a nós...
Abaixo a cicuta,
viva o lírico!
viva eu,
viva tu,
e o rabo do tatu!

Luiz wood

domingo, 24 de janeiro de 2010

a morte de Breton!


Num caminhão de mudanças, André Breton mudou-se. Foi pra Casa Verde.
Tomando conhaque barato, esvoaçando lençois brancos Fellinianos.
Num caminhão de mudanças, André Breton mudou-se definitivamente, mudou-se morto para Casa Verde!
Era uma quarta-feira, quatro horas da tarde!
Mudou-se morto de óculos!
Mudou-se morto de olhos abertos!
Mas, para o bem da verdade,
mudou-se contra a sua vontade!

Luiz wood

sábado, 23 de janeiro de 2010

lua de caçador!


No alto a lua de caçador...
no chão, passos de quem anda à espreita!
era noite, e um véu caiu, um gozo subiu, e nos cantos claros da noite, os seios lindos...de uma linda mulher. Uma noite de vida, sonhos obscenos, coxas largas e a noite...incandescente, sobre meus ombros largos! ombros de caçador!
gozo fatal, veneno...Ainda estou de pé!
seus sonhos, vida e morte...e essa manhã não chega!
Vá noite, vá busca-la antes que a manhã chegue e deixemos de sonhar!
Vá noite, me traga os seios...da linda mulher!
No alto a lua, a lua do caçador!

Luiz wood

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

...vou pular!


Olhos abertos...
quase gato,
enxerguei o escuro, dentro do quarto escuro!
quase tato,
a janela continua lá, como uma boca escancarada, risonha, praticamente um convite pro salto! irresistivel, vou pular, pra dentro do salto!
apenas passos, apenas passos...
lentos e silenciosos, lentos e belos, insinuantes e lentos e belos, vou pular, pra dentro dos passos!
caminham em minha direção, respiração presa, ansiedade, suor, desejo, caminham em minha direção, porque não? vou pular, pra dentro da minha respiração!
puxa meus cabelos, morde, arranha, grita e me faz gritar, morde, arranha, ah, maldita,vou pular, pra dentro de você!

Luiz wood

domingo, 17 de janeiro de 2010

cedo, e eu já...


Era cedo ainda,
a poesia ainda nem acordara, e meu peito já ardia, meus olhos procuravam...
Era cedo ainda,
o sol ainda não tinha côres, a minha insônia ainda nem dormira, e meus passos percorriam...
Era cedo ainda,
o meu mêdo ainda viam as criaturas da noite, o café ainda nem cheirava, esperava a água ferver...
Era cedo ainda,
e você ainda nem chamara (amor...acorde), o pão ainda fresco, a cama impecavelmente desarrumada...
Era cedo ainda,
e eu já te fiz um poema, te disse eu te amo, te beijei a boca (hortelã), tiei sua roupa (pouca) e vivi o dia pra você...
Era cedo ainda,
e fomos tão insanos...

Luiz wood

sábado, 16 de janeiro de 2010

seu novo endereço!


Minha voz está tão quieta, a casa sem barulho!
A toalha pede mais um prato e ele está tão vazio, parece o nosso lençol!
E a sua não-volta está trancada atrás da porta, não temos mais o endereço...
parece até o dia que você se foi, a sua ausência-partida soa até hoje no assoalho encerado, refletindo os pés que caminharam pra fora da dor...só sobrou a minha!
Sobrou uma foto, e o seu sorriso amarela com o tempo, parece a lâmpada velha, não ilumina, tem cor de nostalgia, de jogo de cerâmica, de frases indo embora...
Nada mais é urgente, nada mais é festa, nada mais é gaveta, nada mais é juízo...tudo é vazio! é armario, onde guardávamos as nossas metáforas, hoje é só rima de verbos, pensei que havia, pensei que dava...
Quando voltar pra buscar os restos que sobraram, me devolva os discos, me devolva a comida, me devolva a água, me devolva a vida...deixe seu novo endereço!

Luiz wood

ponto. porto. partida!


ponto. porto. partida...
Um ponto, qualquer um, poderia ser aqui...poderia ser longe, como as suas mãos ou perto, como o meu desejo!
Um porto, um qualquer, na beira do Tejo...descobrindo, das lições de Sagres...viver não é preciso, ou no meu peito, porto inseguro!
Uma partida, qualquer uma, definitiva!
Vi ao longe a nau maldita e incerta do retorno, e sabia que seria definitiva a ida, e mais que incerto, um cais vazio, desocupado, pra sempre...pra sempre!
Não houve lenço branco, abraços ou qualquer coisa assim, não caberia aceno, não caberia lágrima ou qualquer coisa assim!
Apenas o mar cortado pelo leme, pela insensatez, pela espuma cruel, sempre um corte na água! quase na alma, mas na água! ainda não na alma!
E indo à perder de vista...indo até não mais...jamais!
ponto. porto. partida.
E você, passageira!

Luiz wood

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

...no que você acredita?


Entáo, no que você acredita?
Em trilhos retos, de aço frio, de caminhos pré-destinados, com paradas certas e horários?
Ou na trilha por entre árvores, cada curva uma descorberta, um riacho ou outro no meio do nada, um céu sobre a cabeça e o sol...lá adiante, mostrando a direção?
Trocaria a sua guerra por uma cela?
O desafio de construir uma história, linda ou não, mas a sua história...ou melhor a nossa?
Ou prefere a "segurança" estática de colos sabidos e chatos...sem emoção do amor?
Um pé descalço na nossa areia?
Ou as botas apertadas que sabem um caminho decorado?
Então, no que você acredita?
Num campo queimado ou na brisa que vem da floresta?
No quarto escuro com a nossa cama ou na luz do deserto?
Você prefere o conforto frio, ou a nossa mudança?
Então, no que você acredita?
No meu amor ou nas palavras vazias?
Então?...

Luiz wood

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

tuas bocas!


Ah..a tua boca!
boca profana, insana, sem juizo algum...boca menina!
Ah, essa tua boca que, quando muda, entristece o mundo! quando grita, quebra cristais, quebra meu coração...feito louça!
Ah...boca desvairada, quando me beija, o mel dos anjos entra em minha boca, destranca portas bem trancadas, nada resiste à chave da sua boca...ah! boca...
Ah..boca mulher, fértil lábio, canibal dente, antropofágica lingua...
O que mata é a falta dela...da sua boca! O que mata...é ve-la fechada, serrada, mordida!
Ah boca....boca santa, milgreira!
Ah boca....boca puta, saudaeira!

Luiz wood

sábado, 9 de janeiro de 2010

carta que nunca será enviada!


.O seu corpo ainda está aqui...
Queria que nesta noite seu corpo ainda estivesse aqui, para que eu pudesse toca-lo com ternura. Meu corpo espera o teu.Meu corpo te oferece o ombro para que tu repouses, e pede o teu. Meus olhos querem contemplar o teu gozo e oferecer o meu, ao meu corpo.Meu corpo, quer estremecer de prazer, junto ao teu. Uma troca de olhares...uma troca de prazer. E cada vez que nossos corpos estremecerem, as nossas mãos se apertarão. Nossos corpos, tão suaves e aflitos.Minha boca geme a sua falta, a minha solidão, a cada vez que lembro de você. Meu corpo é um copo vazio, sinto sede, muita sede. Embora eu tenha perdido a cabeça, meu corpo lembra, ele lembra de você. Não consegue afastar a lembrança. Sua imagem é presente, forte como o desejo. Meu corpo morre a solidão e me mata. Uma procura incesante, louca quase...A geografia do meu corpo não entende a sua distância, não consegue mapea-la, milhas de distância ou apenas na outra rua. Meu corpo sente a dor de não alcança-la de noite, no meio da minha cama tão grande agora. Minhas mãos querem tocar o seu corpo, beija-la, em pleno sono. Meu corpo quer ser despertado pelo seu beijo, troca louca! Um sonho lindo, um sonho cruel. Não existe outro sonho como esse, cruel e belo, feito uma adaga. Meu corpo implora o silêncio, geme pelo grito. Meu corpo invade seus espaços, rasga véus, inutilmente...sem o teu, o meu corpo é mudo.Meu corpo sente tanta saudade, tanta. Meu corpo pede e não recebe.
Raiou o dia!

Luiz wood

domingo, 3 de janeiro de 2010

O menino dos tênis mágicos!


.Quando o conheci era ainda um menino, não passava de um menino.
Foi por essa época que resolveu sair...e foi. Nunca voltou, mesmo porque, acho que realmente nunca foi...ficou aqui dentro de mim...foi ficando.
Se armou de seus tênis mágicos, de sua mochila incrível, e foi...viajando.
Atravessou vários estados, estradas, vilas, tudo...foi, indo agora, embora ficando.
Nesse processo a transformação foi inevitável...de menino à homem, de homem à mulher e de mulher à menino novamente.
Nós não choramos a sua ida, ninguem chorou...nem rimos!
Apenas ficamos olhando ele ir pela estrada, acho que estava feliz...assoviava uma canção linda, um blues acho. E foi.
Conheceu tudo e todos e de tudo...e todos o chamavam...e ele foi indo, indo, indo até estar longe demais para atender a qualquer chamado...ele não me ouviu.
Conheceu tudo...Lexotan...tomou tudo...fumou...cheirou...bebeu...foi indo, foi.
E o blues rolando, assoviando...e indo. Se transformando. Indo e ficando.
Correu o mundo, atravessou pontes, pulou muros e enfrentou túneis.
E quando dançou conheceu um mundo novo...conheceu outros homens. Morreu por eles. Assoviando um Blues eu acho.
Quando a estrada se estendeu diante dele novamente já não era a mesma estrada.
Era uma estrada torta, cheia de curvas, subindo, curvas a direita e à esquerda, curvas, curvas,curvas, um caminho que nunca chegava, uma estrada que subia aos céus,descia ao inferno e por fim chegava ao seu coração.
De novo ele teve mêdo.
Novamente, teve mêdo...mas foi em frente. Assoviando um Blues, eu acho.
Um dia, sem mais, resolveu morar em uma nova cidade.
Talvez porque estivesse cansado, talvez justamente não estivesse, só resolveu. E lá ficou...
Tornou-se cidadão, um menino cidadão, um menino que calçava tênis mágicos, mas mesmo assim cidadão. Estabeleceu-se. Tornou-se cidadão, um menino cidadão. De tênis mágicos e mochila incrível.
Um dia alguns homens chegaram:
-Identifique-se, disse o policial.
-More, disse o prefeito.
-Trabalhe, disse o soldado.
-Ria, disse o palhaço.
-Ame, disse o idiota.
Ele foi embora de novo...pela estrada, assoviando um Blues , eu acho!
Na nova estrada se assustou...Encontrou muitas pessoas vindo em sua direção... expressões que ele nunca havia visto antes...olhos abertos, muito abertos, bocas abertas, muito abertas, passos rapidos, muito rapidos.
E ouviu muitas vozes...que diziam o mesmo: Mêdo, mêdo, mêdo...continuou, curioso, de onde vinham? milhares de pessoas, mêdo, mêdo...de onde?
Uma curva e o susto...Exércitos, enormes, feios, mutilados, exércitos...marchando, enormes , feios, mutilados...
Teve mêdo...exércitos.
Marchando juntos, camisas pardas, bigodes quadrados, juntos, botas, mêdo...e corpos.Juntos.
O corvo lhe contou sobre guerras, sobre homens que fazem guerras, sobre guerras que matam homens. E sobre o banquete farto do corvo...Banquete de homens, banquete de guerras, banquetes estúpidos, banquetes de guerras. O menino chorou...
eu também chorei...
A fogueira enorme, quente, enorme...judeus, orientais, gays, comunistas, socialistas, livros, canções, sonhos, de esquerda , de direita, crianças, velhos, homens, mulheres, estupidez, intolerância, poder...de quantas coisas são feitas a fogueira, a enorme fogueira da guerra?
Qual será o tamanho da fogueira que os homens precisam para aplacar seus mêdos, seus ódios...seus pesadêlos?
Canhões retumbavam, armas matraqueavam, pedras caiam e atingiam, tacapes, lanças, flechas, palavras, linguas...de quantas armas uma guerra precisa?
O corvo riu...farto de carne,farto de guerra, barriga cheia, mas nós choramos e ele nem assoviou um blues...acho que seria um Blues.Mas virou as costas ao horror e voltou pra estrada.Nem assoviou um Blues. Só foi...e chorou.
Aos poucos o sol foi voltando...bem aos pouquinhos, mas foi voltando.
Voltou, enfim.
O mar...que lindo!!!o mar se abriu na sua frente, gritou ondas, sorriu sóis, marolou seu nome...o mar...que lindo!!!
Serpentes marinhas, criaturas medonhas e lindas, sereias, tritões, mar...quanto mar, que lindo, estava no mar...finalmente.
Enorme se abrindo, enorme chamando, enorme...só pra ele, enorme o mar.
Através dele veria muito mais do mundo, seguiria em frente, andando por sobre as águas se por acaso ele não se abrisse...porque o mar as vezes se abre e dá passagem....mas se o mar não se abrisse, ele caminharia por sobre as águas...milagre.
Caminhou, assoviando um Blues, acho que era um Blues...sorrindo, finalmente.
Um milagre...
Caminhou sobre as águas...assoviando um Blues, eu acho que era um Blues...
E como o deus Cronos, sentou-se no topo da mais alta montanha do mundo e, com três rostos pôde finalmente ver. Viu que os homens construíram muitas coisas belas...só para destruí-las depois, esculpiram, pintaram, entalharam, talharam e depois, cuspiram, derrubaram, vomitaram e, quando perceberam, contruiram tudo de novo, e de novo, e de novo, e de novo.Constroeem até hoje e depois, cospem, derrubam, vomitam...
No outro lado olhou e viu...O sol estava lá...sempre lá, quente, lavoso, radioso e cheio de luz. Sentiu o calor nos seus ossos, fechou os olhos e continuou a ver e sentir, continuou a ter certeza que vivia e de tudo o que vivera até ali.
O sol, o sol estava ali e ele também.
No outro lado a lua, azul, bela e azul, riu quando percebeu que não era feita de queijo, de queijo são feitas as pizzas, não a lua...e sorriu. Junto com a lua havia estrelas, daquela que se fixam nos olhos quando estamos felizes ou amando, daquelas que os poetas fazem versos, daquela que saêm das bocas que beijam, viu a lua e viu estrelas...e sorriu.
A lua estava ali e ele também.
Hora de voltar, hora de estar de novo aqui...
Ele, o menino, seu tênis mágico e a sua mochila incrível...
Estão comigo os três, o menino, o tênis mágico e a mochila incrível.Estão comigo também as histórias que ele me conta. Pra eu dormir.
Me contou do mundo que viu, e me contou também do mundo que ele não viu.
Me contou das cidades, me contou do tanto de ordens que ouviu, e me contou que foi embora porque odiava ordens.
Da guerra ele não me contou, da guerra ele chorou e nessa noite nós não dormimos, nessa noite nós choramos, não dormimos. Tivemos pesadelos.
Me contou do mar e, de como ele deslizou por sobre ele com seus tênis mágicos e uma mochila incrível e uma prancha azul, maravilhosa.
Dos seres de sonho que habitam o mar, das sereias, das caravelas, das ondas, dos peixes, das caravelas, me contou do mar. Das criatura medonhas e lindas.
Me contou do sol, da lua...mas também não me falou dos homens que destroem...dizer o que?
Dizer nada, contar nada.
Ele habita aqui, bem dentro de mim.
De vez em quando eu olho dentro do armário e vejo seus tênis mágicos brilharem, pedindo para calça-los, para jogar a incrivel mochila nas costas e sair pelo mundo de novo...qualquer dia, quem sabe?
Nesse dia ele sairá pelo mundo de novo, com seu tênis mágico...
Sairá assoviando um Blues, tenho certeza que será um Blues...
Porque o Blues é azul, da cor do seu tênis, mágico e azul.
Como o Blues.

Luiz wood

sábado, 2 de janeiro de 2010

...você tem medo!


Ela apenas sonhou,
em frente ao espelho mergulhou sua mão no reflexo,
ah! Alice....um mundo novo onde tudo era permitido, ousado, colorido, gato risonho, chapeleiro louco...apenas sonhou!
Voou, rasantes em ravinas...um amor pronto, um amor novo, um conhecido outro desconhecido!
Carecia escolher! novo, pronto, desconhecido ou conhecido...escolha!
-Vamos! não tenha medo, escolha!
Esticou o dedo e tocou a alma do amor.....desconhecido!
Escolha feita....tocou, agora é viver ele! Agora é voar esse amor escolhido e voar!
É azul, o amor, feito a terra, é azul!
-Você tem medo?
-Não tenha, voe!
Se abrir mão dele você cairá do céu, venha! não tenha medo!
Não...não fuja...
você irá cair....voe, voe, voe!
-ah! você tem medo!
-ah! você caiu!
Saia do espelho...saia!
Acorde! você caiu!
-Você tem medo....


Luiz wood

...tinha uma luz azulada, quase lua!


Ela me chamava de sol, e era quase lua. Tinha uma luz quase que azulada. e me chamava de sol.
eu quase não à percebi, mas ela estava lá, paciente como a lua...quase azulada. suas mãos eram brancas, muito brancas, dedos compridos, como os dedos de quem toca piano. e ela me acenava, e me chamava de sol. quando enfim percebi, saí do meu quarto escuro, fui pra rua, atendendo o seu chamado. ela me chamava de sol. ela era quase lua! de uma forma sútil foi me seduzindo cada dia mais com suas mão brancas, seus dedos longos que me acenavam e me seduziam. me tirou do lugar escuro em que eu estava. me trouxe para a rua. me disse que me amava. que me queria pra ela. que precisava de brilho. ela me chamava de sol, e ela era quase lua. tinha uma luz azulada. e o quarto escuro, deixou de me possuir. era um quarto de Allan Poe. escuro. e ela me trouxe pra rua. me acenou com suas mão brancas. me chamava de sol. e ela era quase lua...tinha uma luz azulada...era quase lua! agora que me acenou e eu atendi ao seu chamado, estamos ambos sol e quase azulados.....quase lua. estamos sol. e ela ainda me chama....sol!

"...e a minha alma para fora dessa sombra...que flutua sobre o chão...não se levantará...NUNCA MAIS ...." (O CORVO - Edgar Allan Poe )


Luiz wood

...amor de Frida e Diego!


Eu não sei, um dia cheguei a achar que era minha. bobagem, nem eu mesmo me pertenço, como poderia querer tê-la presa à mim? como pude te querer minha? se nem tua és também....Mas um dia, cheguei mesmo a querer-te só minha....mas nem tua és...queria o amor de Frida e Diego, bobagem...esse amor é apenas deles, como poderia ser nosso? se nem mesmo à mim me pertenço e nem tua és. o querer dar o céu a ti, mas nem o céu é meu, o céu é dos astronautas que lhe traçam rotas, não, o céu não é dos amantes, o céu pertence aos astronautas que lhe traçam rotas, amantes amam e supõem ter alguém...bobagem!por um tempo te queria mulher, porque me supunha homem, mas esse querer mulher por ser homem pertence à quem é Deus, e eu não sou Deus e nem santo, santos são tristes, não quero ser santo..nem Deus!te julguei minha, e tanto te vi assim, minha, que quase acreditei nisso....como pude? se nem eu mesmo à mim pertenço, como pude te querer minha? se nem tua és....queria pra nós o amor de Frida e Diego, mas esse amor foi apenas deles...apenas deles...apenas deles!de Frida e Diego...o amor deles! apenas deles...

Luiz wood

Poemas de Outono!


Estive por ai caminhando....
buscando o poema de outono! procurando por folhas caídas! em busca do silêncio de outono!
e vi pessoas. pessoas silenciosas, pessoas de outono! vi as ruas que nunca terminavam. vi pessoas silenciosas, pessoas que caminham por ruas que não terminam, pessoas de outono! Caminhei e procurei por canções, caminhei e procurei em todos os cantos, cada curva, cada gaveta, cada desejo, eu procurei. e vi apenas o silêncio, pessoas que falavam, mas não conversavam, ouviam e não escutavam, apenas o silêncio! musicas que não cantavam, notas que não tocavam, pessoas, só pessoas e o silêncio das pessoas de outono! eu caminhei e procurei. estive no mêtro, e vi as paredes pichadas dizendo do novo deus que virá. igrejas lotadas, pessoas procurando o deus que já se foi.
e tudo era outono e silêncio. e eu caminhei por ai procurando....os poemas de outono!
ergui a gola do meu casaco, frio, frio e congela os ossos, congela a alma. eram ruas estreitas, meus passos fizeram barulho quando meus passos insistiram....caminhei pelo outono, caminhei pelo silêncio... e procurei.
no outono estive caminhando e procurando....
os poemas de outono!

Luiz wood

Anjo!


"O sol se converterá em sombras, a lua em sangue, antes que venha o dia, grande e espantoso, de Deus..." (Joel 2:31)

o maldito anjo e sua espada flamejante, cheio de ira, nos impôs a sua espada....maldito anjo! era dia e era noite, dia escuro, lua de sangue feito sol...vermelha, grande e vermelha, feito sol....e o anjo e seu dedo acusador apontado...cabeças baixas, como se aceitássemos as acusações do dedo acusador, a punição da espada flamejante...e o maldito anjo irado! onibus e carros tombados, semáforos todos vermelhos, como a lua de sangue, feito o sol, pessoas desesperadas...e lá no alto o anjo e sua espada! castigo inclemente....! vidraças quebradas, explosões nos túneis do metrô, paredes pixadas...e pessoas desesperadas! e o anjo, o maldito anjo e sua espada, lá no alto, acusando....apontando o dedo acusador, joelhos orando, prostrados, joelhos clamando por misericórdia...e todos nós acusados como se não mais houvesse pecados, todos espiados, expurgados, pelo anjo e sua maldita espada flamejante! não há mais pecados, apenas castigos de um anjo inclemente e pecador....por ser incapaz de perdoar! vou pra casa...vou te esperar...e juntos, fazer com que o sol volte a brilhar.....vou pra casa! que se dane o maldito anjo e sua espada em fogo....que se dane!
vou pra casa te esperar......

Luiz wood

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Jorge, o cavalo e a ladeira!


Muito escuro! as ladeiras pareciam intermináveis! e ele seguia por elas, ladeiras longas, escuras e silenciosas! apenas alguns latidos...estranha a linguagem dos cães! estranha linguagem.
sem nenhuma luz, nada, escuro. e o pensamento constante dentro dele! onde ela estará? volta?....achava que não! orações, simpatias, rezas...não, ela não voltou! falta fé! falta crer! falta ela....sem ela, não crê, não tem fé! ...redundante.
muito escuro e ladeira! mas jorge não lhe faltará, prometeu velas, prometeu rezas, prometeu a vida, jorge não lhe faltará!
meia-noite...ainda escuro, ainda ladeira, ainda silên.....
atabaques, todos da bahia, todos ao mesmo tempo, ensurdecedor e a lua cheia e junto com ela, jorge, o cavalo, ele veio...todos os atabaques da bahia...todos, ensurdecedor, jorge não lhe faltou. os terreiros gritaram naquela noite....
ela dobrou a esquina, e de braços estendidos, foi ao seu encontro.
jorge não lhe faltou!

Luiz wood

...tanto tecido!


o tecido todo jogado sobre seus joelhos! sobrava tecido, de linho, branco, grande! sobrava tecido, faltavam joelhos. as mãos frágeis o alisavam delicadamente, o carinho no homem amado, o carinho no rosto do filho, o carinho do colher rosas. as mãos frágeis o alisavam delicadamente.
em cada trama, cada pedacinho do pano, de linho, branco, ela recordava a própria vida, alisando delicadamente.
era tanta vida ali jogada sobre seus joelhos! sobrava vida, de vida, branca, longa! lembrou seu homem! um dia ele chegou e a pegou pela mão e foram viver tão longe, tão sós, tão felizes! lembrou cada beijo, cada gemido, cada gozo, cada riso e todas as noites! um caminhar inteiro, uma vida toda de amores e paixão! e agora apenas as lembranças e aquele tecido ali, jogado sobre seus joelhos! de linho, branco, grande! queria vida, queria seu homem, queria a vida com seu homem, e tudo o que tinha era apenas aquele tecido todo jogado sobre seus joelhos !
sobrava tecido,
faltava vida...

Luiz wood

Oníricos!


apenas uma cidade, à espera do alvorecer, à espera do nascer, na verdade, do renascer....
apenas uma cidade e suas ruas, vez em quando, uma mulher linda dobrando suas esquinas como quem dobra a vida, ao acaso, nas esquinas de ruas e nas esquinas da vida...ao acaso.
vez em quando um desejo de jardim, um desejo de primavera com gosto de outono e suas sombras frescas, como num sonho de inverno, um sonho quente e aconchegante feito verão em apenas mais uma cidade qualquer.
vez em quando na cidade nos encontramos, dobrando um esquina feito a linda mulher em pleno verão, e de mãos dadas, seguimos por nossas avenidas até beira-mar, seguimos até nossos olhares se encontrarem em avenidas de girafas postas, e chapéus vermelhos, galochas amarelas e nós, um casal tão comum, tão nosso,
tão comum, como gravetos encontrados na areia do mar.
tão comum como o guarda chuva....mas faz sol.
apenas uma cidade onde orquídeas bebem agua na chuva da madrugada, a lua, quando surge venera todos os espelhos que a refletem...lua narcisa, como todas as luas, narcisa e bela.
a mulher linda ainda dobra as esquinas e nós seguimos, nesse sonho tão lindo...apenas sentindo a terra girar sob nossos pés perdidos no universo!
seguimos de mãos dadas.....

Luiz wood

Perdido na tarde, quase saudade!


Era apenas um desejo perdido na tarde, quase uma saudade.
Buscava alívio nos livros, nos filmes inúteis, nas músicas que apenas aumentavam o desejo
( a quase saudade) perdido na tarde...o pensamento insistia, a alma voava, e iam longe, pra perto de você, pra dentro da sua casa. Procurava por todos os meios a distração, o não lembrar, inútil...o desejo insistia em te procurar.
Como esquecer os braços? os olhos? a pele-cheiro?. Como deixar de desejar, de sentir o que é quase saudade?
Impossível, mas queria esquecer, arrancar você do pensamento, do coração.
Arrancar da vida, embora seja a própria vida, suícidio!
Lembranças de olhos cortantes.
Lembranças do fogo, do calor exausto, dos tempos de fogueira. Chama apagada apenas com suor, com o suor dos dois em chamas, quentes.
Das guerras aflitas, esgrima de linguas.
Saudade, quase um desejo perdido na tarde.
Saudade....
- Alô!
- Oi!
- Saudade de você!
- Então venha!
Era apenas uma saudade, agora é só desejo, não mais perdido,
na tarde!


Luiz wood

Normal, comum!


Quando nos encontrarmos de novo,
será apenas um dia normal, desses comuns,
estará chovendo, eu como sempre sem guarda-chuva,
e você como sempre, preocupada:
-Vai pegar uma gripe!
A nossa conversa será banal, dessas comuns,
sem novidades, nem alegres nem tristes,
corriqueiramente sorriremos,
estará um dia ensolarado, eu como sempre na sombra,
e você como sempre, preocupada:
-Venha pra calçada!
O nosso olhar vai se encontrar em banalidades, dessas comuns,
será noite, e eu como sempre acordado,
e você como sempre preocupada:
-Vai se cansar!
Quando nos encontrarmos de novo,
será o dia mais feliz da minha vida normal,
dessas comuns!

Luiz wood

Eu também!


Seus passos soaram leves, descalços, na ponta dos pés.
Linda, caminhando assim, descalça, quase que displicente...pisando em mim, displicente!
Nossa casa em desordem, aquela desordem feita por amantes, desordem de lençóis, jornais não lidos, garrafas abertas, copos derramados, tapetes manchados e de cheiros....os nossos!
A minha camisa te veste larga e linda, visão de sonho você descabelada e de sorriso preguiçoso, e minha...tão minha! assim de manhã....logo cedo! e tão minha....
-Bom dia!
-Te amo!
-Eu também!

Luiz wood

Numa tarde de amor eterno de uma tarde!


Meu rosto está branco, Pierrot,
o seu, vermelho Colombina...."Vou beijar-te agora não me leve à mal, hoje é carnaval..."
suados mas abraçados, te prometi naquele dia, baile de carnaval, amor eterno...
nem a conhecia,
mas prometi, te amei naquele dia, naquela tarde, amor eterno de apenas uma tarde de pierrots e colombinas,
de confetes e de gordos reis, gordos momos...e te beijei, você não me levou à mal, me beijou...era carnaval!
tarde de amor eterno de uma tarde...de pierrots e colombinas...e o gosto da sua boca até hoje sacia a minha fome, faz brotar da minha uma mina d'água, e os teus olhos ainda me enxergam em todos os bailes do resto da minha vida...
"Vou beijar-te agora não me leve à mal, hoje é carnaval...",
numa tarde de amor eterno de uma tarde, vou beijar-te

Luiz wood

Eu tive medo!


Eu olhei bem dentro dos olhos do homem, e o que eu vi me deu medo, muito medo ...
Eu vi a escuridão....nos olhos, bem no fundo deles, havia uma noite que insistia em não deixar o dia nascer....insistindo na noite...evitando o dia.
Eu tive medo, muito medo...
Eu vi, juro que vi, lá dentro dos olhos do homem, eu vi uma multidão se espremendo, tentando ocupar um canto escuro ... onde ninguém pudesse alcançá-la, onde o fel das línguas mortas se mantivesse bem distante.
Eu tive medo, muito medo ...
Todos os aviões do mundo ... mas todos mesmo, levantaram vôo , e o barulho era ensurdecedor ... canhões dispararam, gargantas gritaram ... tapei meus ouvidos ... mas os olhos olharam e viram ... Estávamos todos cegos e surdos.
Eu tive medo, muito medo..
Eu vi pessoas, muitas pessoas, mas estava sozinho ... na contra-mão, sozinho ... como se de repente o mundo todo se esvaziasse, e não restasse mais ninguém, nem você...
Eu tive medo, muito medo...
Quando eu olhei bem dentro dos olhos do homem vi morcegos ... vi cavernas ... vi o escuro, era um escuro que eu nunca havia visto antes, nem quando olhei o espelho, nem quando eu sonhei, era escuro, muito escuro...
Eu tive medo, muito medo ...
Os esqueletos se levantaram, covas se abriram, as línguas foram arrancadas, desejos sublimados,canções foram esquecidas e o silêncio se alterou ... gritos.
E restava pouca coisa, apenas meus olhos. Eu tive medo, muito medo...
Arranquei meus olhos e não vi mais os olhos do homem, não vi mais nada.
Eu tive medo,
muito medo.

Luiz wood

Vestido!


Era um vestido de noite, parecia que tinha estrelas em pespontos, luas cerzidas e o seu sorriso em barra.
E você usava.
Usava luvas que não me serviam, mas que deixavam lindas suas mãos, delicadamente elas acariciavam seus dedos, como faria eu no lugar delas.
Sapatos altos, chegavam ao céu, quase ao vestido com estrelas pespontadas, luas cerzidas e sorrisos em barra... vermelhos, altos, vermelhos e lindos... pisando o meu desejo suavemente,
E você usava.
Vestido, luvas e sapatos.
Sorri e você perguntou o por quê?
Sorri porque você é linda e eu te amo e você esta linda... dê-me seu braço, vamos.
O carro silencioso, a música, a estrada, a noite, o seu vestido... perfeito.
Essa noite poderia nunca acabar.
Não será tarde, nunca será... dirijo devagar, quero saborear essa noite, você ri, conta coisas, canta e sorri pra mim...
Você me ama? Amo, claro.
Ama muito?
Amo tudo.
Não quero chegar, quero você só pra mim essa noite, dirijo devagar e você ri. Percebeu.
Abanou a cabeça e finalmente cedeu.
Vamos voltar, lentamente, a estrada, a música, a noite... de volta pra casa.
Nós, essa noite você será só minha.
E tirei seu vestido de noite.
Com estrelas em pespontos, luas serzidas.
E você sorriu pra mim.
Nua.

Luiz wood

O anjo e o telescópio!


Era um anjo, apenas um anjo.
Um anjo que tinha que velar por toda uma cidade, mas apenas um anjo.
Abria as asas e voava, revoava, pousava, voava, revoava.
Apenas um anjo. Chorou algumas vezes, homens são assim mesmo, as vezes nos fazem chorar, as vezes é triste, muito triste ser anjo, as vezes choramos.
Os anjos choram.
Mas tinha asas, e isso é o que importava, asas.
Com elas subia tão alto, que nem o telescópio mais potente poderia enxerga-lo, isso se telescópios pudessem enxergar anjos, não podem, mas se pudessem, nem o mais potente deles conseguiria enxergá-los, porque tinha asas e voava tão alto...
Homens precisam ser velados para não fazerem besteiras, mas fazem mesmo assim, mas se não fossem, fariam ainda mais, além das guerras, além do preconceito, além das dores, além das destruições, além das maldades, além da indiferença, além da fome, além da prisão, além da tortura, além... fariam mais besteiras, homens precisam ser velados.
O anjo velava.
E voava pra além do telescópio potente...
Um dia voou tão alto, mas tão alto, bem mais alto, muito mais alto e não voltou mais.
Agora não temos mais um anjo pra velar por nós.
Estamos sós.




Luiz wood

sextante!


Seus olhos percorriam as ondas com experiência de um homem do mar, as lágrimas correram porque as ondas lembraram os carinhos dela, a experiência era de homem do mar, não de amante, o amante não tinha nenhuma sensibilidade nem experiência, o amante não tinha nada, nem ela.
Pelo sextante seus olhos se estendiam e viam o mar horizontal, o sol vertical, mas não viam o sorriso dela, branco dental, gosto de menta.
Como afogar nessa imensidão de águas o que lhe vinha no peito, nos olhos, na boca, nas mãos, no gosto? de dentifrício... de menta?
O vento soprou e inchou as velas, lembraram o coração inflado de quando a conheceu... cheio, barulhento, gritento, violento, amoroso... frágil.
Mudava o rumo a cada nova lufada, quem sabe pra onde?
Pra China. Pro Cabo da Boa Esperança. Austrália. Suez.
Sua Boca.
A minha.
Cordas em mãos hábeis, cabelos nas inábeis, timão nas hábeis, seios nas inábeis.
O mar sem-fim, curto demais pra fugir dela.
O sol na cara, os olhos nas ondas.
Ela no pensamento.
No mar sem fim.




Luiz wood

o homem, a chuva e a gola do casaco!


Olhou pro alto, nuvens de chuva, negras nuvens!
Ele ali parado contemplando nuvens...estranhas formas, nuvens-objetos, nuvens-animais, nuvens-coisas, nuvens carregadas...nuvens negras!
Um temporal vem por ai!
Ali, veja, ali mais à esquerda, uma nuvem-dragão...mas olhe depressa, venta muito e ela se tranformará quando você menos esperar!
Pronto, o vento desmanchou o dragão....restou nuvem!
Olhos no céu, calçada úmida, guarda-chuva inútil!
Sem vontade de sair do lugar, à despeito da chuva, dos raios e trovões!
Apenas ficou ali parado, olhando pro céu! Vai chover!
Observando nuvens!
Uma girafa, um leão, uma mão, quase garra....mas o vento as muda, o vento muda tudo!
Vai, com certeza, mudar nuvens também!
Levantou a gola do casaco e se foi....cabeça baixa, gola levantada!
Se foi....
O homem não mais vai voltar!
Foi o vento, o vento o desmanchou!
feito nuvem....

Luiz wood