segunda-feira, 26 de julho de 2010

teu colo...e tantas flores!


Houveram noites em que o vento se fazia notar entre as arvores. Eram noites frias e violentas.
Com medo, eu sentava-me no teu colo e ignorava que nele, no seu colo, cresciam flores cultivadas pelas solidões do deserto. E você me olhava. Plácida como um pastor que guarda mais que rebanhos,guarda segredos dos campos.
Vê como estou largado no seu colo? Sou de novo menino que quer apenas ser embalado no seu colo até dormir, até sonhar.
Você me puxava pra dentro do teu colo, onde a nossa solidão gritava mais forte.
E quando o dia clareava e preenchia os seus olhos, você me sorria com a calma dos dias de inverno. O seu amor era estações...na primavera, os passaros pousavam nos seus olhos.
Eu levantei-me do seu colo e fui até onde as mãos tangem os ventos, como quem tange o gado. E na minha boca, o verbo existiu, como teu nome, como tua carne, como uma gramatica louca de loucos verbos.
Mas perdi o teu rosto.
Não sei se foi na latitude ou no pulsar das pedras à beira do córrego...não sei. Sabes?
E, se não fosse pouco, eu diria que flores nasceram do seu colo!

Luiz wood

...Hoje seremos manhã!


Hoje seremos apenas manhã...
uma manhã suave e brisenta...acalentadora, dessas manhãs cheias de saudades, repletas de travos na boca...saudades do que ainda nem chegou!
Ontem fomos o dia,...até que a noite chegasse!
Mas hoje, seremos apenas manhã...com essa saudade toda!
Ontem...fui dia, com medo da saudade...hoje não...hoje quero a saudade da manhã!
Do caminhar no sol, do calor gostoso das manhãs, do simplesmente viver...
Ontem fomos dia.
Hoje seremos manhã...
Amanhã...seremos uma vida toda!

Luiz wood

sábado, 24 de julho de 2010

...um banco no jardim!


Hoje eu vou lá no jardim,construir um banco!
Terá que ser um banco largo, não muito comprido, o suficiente para duas pessoas.
A madeira será retirada de alguns dos meus sonhos que desmoronaram, esses sonhos serão a base do banco.
Acho que colocarei nele algumas almofadas coloridas, eu mesmo vou faze-las de retalhos, cerzidos um a um, com paciência, cada ponto um afago, um carinho, um beijo, um olhar trocado. Serão almofadas confortáveis, daquelas que colocamos no colo,antevendo o abraço.
Vou pedir à chuva que não as molhe. Nada de lágrimas, serão almofadas de sorrisos apenas.
Em volta do meu banco vou plantar grama macia para pisar nela sempre descalço. Assim quando o meu pé procurar o seu, não haverá nada entre eles, nem mesmo uma meia listrada, apenas nossos pés descalços...
Hoje vou lá no jardim, construir um banco!
Amanhã vou te chamar...e pedir que sente aqui comigo!

Luiz wood

domingo, 11 de julho de 2010

...é verdade


É verdade, minhas mãos estão vazias.
O meu olhar, vago.
A minha boca, silênciosa!
Sinto tanta falta do vento no meu rosto...
Tantos passos no caminho oposto, às vezes, olhavamos pra trás e nunca mais nos enxergamos!
É verdade, me sinto tão só.
Tão só, tanto tempo, tantas histórias e me sinto tão só!
Eu irei só, as mãos nos bolsos e a saudade de você à me incomodar, uma canção nos lábios...a lembrança nos olhos, tão só!
É verdade, vou continuar cantando...
que pena, você não vai ouvir...
nem eu!

Luiz wood

terça-feira, 6 de julho de 2010

tinha uma luz azulada, quase lua...


Ela me chamava de sol, e era quase lua. Tinha uma luz quase que azulada. e me chamava de sol.
eu quase não à percebi, mas ela estava lá, paciente como a lua...quase azulada. suas mãos eram brancas, muito brancas, dedos compridos, como os dedos de quem toca piano. e ela me acenava, e me chamava de sol. quando enfim percebi, saí do meu quarto escuro, fui pra rua, atendendo o seu chamado. ela me chamava de sol. ela era quase lua! de uma forma sútil foi me seduzindo cada dia mais com suas mão brancas, seus dedos longos que me acenavam e me seduziam. me tirou do lugar escuro em que eu estava. me trouxe para a rua. me disse que me amava. que me queria pra ela. que precisava de brilho. ela me chamava de sol, e ela era quase lua. tinha uma luz azulada. e o quarto escuro, deixou de me possuir. era um quarto de Allan Poe. escuro. e ela me trouxe pra rua. me acenou com suas mão brancas. me chamava de sol. e ela era quase lua...tinha uma luz azulada...era quase lua! agora que me acenou e eu atendi ao seu chamado, estamos ambos sol e quase azulados.....quase lua. estamos sol. e ela ainda me chama....sol!
"...e a minha alma para fora dessa sombra...que flutua sobre o chão...não se levantará...NUNCA MAIS ...." (O CORVO - Edgar Allan Poe )

Luiz wood

...venha noite...


Oi noite!
podemos conversar?
tenho tanto à te contar,
tanto pra você saber,
tenho tanto de você noite,
que quase somos um só,
eu e você, noite!
venha, sente-se aqui,
temos a mesa,
temos a bebida,
temos tanto e tanto,
mas não temos paz,
nem temos paz...e paz!
só a paz da noite,
mas sente-se,
quero beber você,
taça enorme e cheia de estrelas,
e de ventos....
ventos noturnos!
venha noite,
vamos brindar ao novo Deus,
os homens acabaram de inventar um novo Deus,
ele é azul, às vezes,
noutras, vermelho,
vermelho, o novo Deus é vermelho,
como os meus olhos,
e você, noite, não tem olhos,
mas mesmo assim,
me enxerga tanto!
venha noite,
vamos beber e brindar,
tim tim....à nossa loucura.
ao novo Deus vermelho,
meu Deus!!!! inventaram um Deus vermelho....
um Deus de plástico, e mudo,
e vermelho!
venha noite....
sente-se aqui,
hoje seremos só nós dois,
ela se foi embora...
ela foi embora, noite,
ela se foi e estamos sós, noite,
eu e você!


Luiz wood

sábado, 3 de julho de 2010

dedos mágicos!


Ele tem por volta de uns oito ou nove anos.
É um menino franzino, ossudo,pernas compridas e cabelos despenteados...sempre!
Daqui da minha janela o vejo sempre na rua, correndo, empinando pipas coloridas, jogando taco, enfim....tudo o que um menino comum faz. Tudo o que eu fazia. Tudo o que os outros fazem.
Mas esse menino tem algo de especial.
Ele sonha com as mãos!
Dizem que os italianos falam com as mãos, da mesma forma ele sonha e viaja nos seus sonhos com as mãos.
Eu o observo sentado de costas contra o muro, joelhos levantados (ossudos), cotovelos (ossudos) apoiados nos joelhos. E com a ponta dos dedos ele desenha no ar seus sonhos.
Pra mim foi uma surpresa quando percebi que conseguia "ler" esses sonhos, é algo como entender o que um estrangeiro esta dizendo sem nunca ter estudado a sua lingua. A primeira vez percebi claramente que ele desenhava um carrinho de rolimã, grande...daqueles que tem dois eixos, três rolimãs e correm bastante. Percebi que ele havia projetado um breque...depois com as mãos feito um aceno de adeus, apagou. É preciso correr riscos ou a aventura não tem a menor graça. Afinal, nós homens, guardamos nossas cicratizes infantis como prova de que um dia fomos meninos.
Depois disso acompanhei vários projetos seus.
Uma casa com um sotão e um telescópio, até as estrelas e planetas ele projetou.Nessa noite o céu estava lindo, parecia um céu novo!
Um estádio de futebol inteirinho...com dois times, juízes, torcida...foi uma partida emocionante, ganhamos de 8x0.
Em outra feita foi um avião, daqueles antiguinhos que vemos em filmes e desenhos animados, sem cabine e até o cachecol em volta do pescoço ele desenhou com os seus dedos, era uma tarde fria!
Semana passada ele estava mais concentrado que nunca, cenho franzido, expressão atenta, dedos cuidadosos no desenho...corrigiu várias vezes.
Era um barco.
Não uma caravela nem um transatlântico! Um barco a remo, desses simplezinhos...a remo!
De madeira com dois remos fortes e leves.
Os remos ele corrigiu várias vezes, precisavam estar adaptados aos seus pequenos braços (ossudos).
Em seguida desenhou o mar!
Tubarões, baleias, sereias, estrelas do mar, tritões enfim, a população inteira de um mar de menino.
Algumas ilhas com coqueiros, mapas rabiscados....
Seus dedos não paravam e eu encantado acompanhando a trajetória toda, vendo um sonho nascer...uma viajem sendo planejada e morrendo de inveja.
Quando terminou,olhou pro alto, pra minha janela e sorriu como a me dizer que sabia das minhas leituras dos seus desenhos.
Cúmplices!
Essa semana ele sumiu.
Estão todos preocupados,pais, amigos, parentes.
Menos eu.
Sei que foi atrás de um tesouro, num mar incrivel.
Quando ele voltar, vai me contar suas aventuras.
Com seus dedos (ossudos).

Luiz wood

quinta-feira, 1 de julho de 2010

A OSTRA


Deveria ser umas 3 horas da manhã,madrugada, esse momento parece ser daqueles em que a madrugada não se conta pelas horas, o tempo parece suspenso,o dia com medo de começar!
Devo adiantar que o lugar era estranho, um viela dessas escuras e totalmente formada por bares esfumaçados. Esperava que a qualquer momento Bogart em pessoa virasse a esquina, conspirador, cigarro acesso, à caminho do aeroporto que o levasse pra longe do Marrocos.
Risos,mulheres quase nuas, bebados falantes e cantantes, estranho povo habitando a viela,o que sem dúvida me atraia cada vez mais. Embora não fizesse a mínima idéia do que fazia ali, simplesmente não conseguia ir embora, mesmo que quisesse, o que não era o caso.
Fiquei!
Neons vermelhos, amarelos, azuis, verdes....os nomes anunciados eu não me lembro,mas procurava, procurava, procurava...até que finalmente encontrei.
A entrada era estreita com uma longa escada, que só de olhar a preguiça se manifestava, a única luz que servia de orientação vinha do neon, azul piscante zunindo como abelha no prenuncio de hora por outra...apagar definitivamente!
"A OSTRA", nome estranho e curioso pra um bar,pensei subindo a escada infinita de tão longa. Finalmente entrei no bar propriamente dito, vermelho, a única cor que lá existia era o vermelho....
Sentei-me no balcão e pedi alguma coisa pra beber, fazendo hora até descobrir o que fazia ali, whiski barato, forte, sem gelo do jeito que eu gosto.
Meus olhos procuravam em todas as mesas e não encontrava sei lá o que ou quem, mas tinha, precisava tentar saber o que fazia ali naquele bar sujo e pequeno.
O blues que tocava era decente, o que me animou a tomar outra dose, blues embala...
Nas mesas nada havia o que me fizesse saber de algo, foi quando eu vi...
Lá estava eu, sentado na outra ponta do balcão, bebida na mão, tamborilando com os dedos um velho blues que tocava na vitrola.
Nossos olhares se encontraram e, surpresos rimos.
Finalmente haviamos encontrado a resposta, a busca terminara, era o fim...
Coisas como essas é que fazem um cara se dar um tiro na cabeça!

Luiz wood